terça-feira, 25 de setembro de 2007


O Guia do Estudante, da Editora Abril, certifica que o curso de


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da(o)




Centro Universitário Sant'Anna



conquistou






em sua avaliação anual de cursos superiores, publicada na edição Guia do Estudante Melhores Universidades 2007.





Ricardo Lombardi


Redator-chefe


Guia do Estudante - Editora Abril


terça-feira, 11 de setembro de 2007

Rosa: Referências Bibliográficas

Seguem mais duas sugestões de referências para o trabalho "O Brasil dos estrangeiros". Uma delas tem o texto completo em anexo, uma interessante entrevista que saiu no Estadão há umas semanas com o correspondente do New York Times no Brasil.

A outra é mais uma dica, já que não tive acesso ao texto original e completo da revista (quem sabe alguém consegue, seria bem interessante para o trabalho).

A revista norte-americana Vanity Fair (que trata de cultura, moda e política), em sua edição de setembro último, teve como matéria de capa o Brasil (e Gisele Bündchen). Eis o link para as chamadas da revista, que infelizmente não disponibiliza o conteúdo inteiro do assunto que nos interessa mais diretamente: http://www.vanityfair.com/magazine/toc/2007/toc200709

Esse especial da Vanity Fair deu o que falar por aqui, foi comentado na imprensa, por colunistas e em blogs. Embora não substitua a leitura do original, achei um 'resumo' interessante publicado no site Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim. Quem quiser, dê uma olhadinha:
http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/448501-449000/448908/448908_1.html

Espero que sejam fontes inspiradoras...

- Enviado pela Profª Rosa Lopez da disciplina Realidade Socio Econômica em 10/09/2007.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

New York Times - Brasil

O Estado de S. Paulo, 19 de agosto de 2007

Aliás

Enfim, a hora de dar voz ao silêncio

LARRY ROHTER

Ex-correspondente do New York Times para o Mercosul

Depois de permanecer calado por três anos e meio, jornalista americano conta, nesta entrevista exclusiva e em livro que finaliza, os bastidores da reportagem polêmica que quase o levou à expulsão do Brasil

Flávio Pinheiro e Laura Greenhalgh

Vida de correspondente estrangeiro não deve padecer de monotonia. Se padecer, algo está errado. Ou o correspondente é ruim ou o lugar onde vive, e trabalha, não merece mesmo cobertura especial. No caso de Larry Rohter, até a semana passada representante do New York Times no Brasil e demais países do Mercosul, a monotonia passou longe. Em 2004, ele assinou um artigo que fez trepidar os pilares do Planalto. Sem ter ouvido o “sujeito” da reportagem, Luiz Inácio Lula da Silva, não porque não tentasse, mas porque não foi recebido, escreveu um artigo bombástico a começar pelo título: “Hábito de bebericar do presidente vira preocupação nacional”. Leitores americanos tomaram conhecimento de uma prática que, segundo o autor da matéria, estaria comprometendo a capacidade de governar de Mr. Da Silva. “Este jornalista não entra ... está impedido”, teriam sido as poucas palavras de um Lula decidido a expulsar Rohter do País. Abriu-se um acalorado debate na imprensa brasileira. O Ministério da Justiça chegou a notificar a suspensão do visto temporário, um senador entrou com pedido de habeas-corpus em favor do correspondente, o embaixador brasileiro em Washington teve conversas no jornal americano e, finalmente, a crise foi contornada. Mas as cicatrizes ficaram.

Nesta entrevista exclusiva ao Aliás, Rohter repassa a tensão que viveu no Brasil democrático, quando quase foi expulso com base numa lei criada na época da ditadura. Rompe um silêncio de anos: “Lá atrás não pude falar nem me defender. É uma norma do NYT. Agora, como já entreguei o posto, posso dizer o que passei.” Diz, em parte: Larry não está de malas prontas para os EUA, como se noticiou, embora já tenha sido substituído no cargo. Vai ficar no Brasil até o início do ano que vem, terminando o livro que escreve sobre suas duas passagens pelo País (foi correspondente do Washington Post e da Newsweek nos anos 70/80, e voltaria em 98, a serviço do NYT). Promete contar os bastidores da matéria que o presidente reprovou. O livro já tem título: Arestas Insuspeitadas, expressão que sai da música O Estrangeiro, de Caetano Veloso.

William Lawrence Rohter, 57 anos, casado com brasileira e pai de dois filhos, nasceu em Chicago. É filho de mãe imigrante da Escócia e pai descendente de russos. Na juventude, trabalhou como carteiro e operário de uma fábrica de lâmpadas. “Operava na linha de produção com imigrantes latinos e caribenhos. Ali aprendi o espanhol”, relembra. Já o português foi no Brasil, deliciando-se com a fala sonora dos nordestinos, “algo adorável”. Entre os cinco idiomas que domina está o mandarim. Explica-se: além de estudar história da China, na Columbia University, teve uma passagem como correspondente em Pequim, entre a primeira e a segunda estadas no Brasil. Quando finalizar o livro de revelações e mais um outro, seu romance de estréia, a licença que tirou do NYT deve expirar e o “polêmico Larry”, como foi chamado, voltará à reportagem. Provavelmente na China, avisa a quem estiver interessado.

Como se sente ao terminar seu período como correspondente no Brasil?
A decisão de fechar o ciclo foi mais minha do que do jornal. Por razões pessoais pedi para sair. Hoje eu me sinto assim: durante oito anos e meio fiquei (faz o gesto de quem fecha um zíper) com o bico calado neste País. Porque o New York Times tem uma norma que todos os correspondentes devem acatar: não fazer nenhum comentário pessoal sobre assuntos internos do país onde atuam. Então, fiquei quieto. Só que setores inescrupulosos da imprensa brasileira se aproveitaram do meu silêncio e passaram a me atacar.

Isso começou quando?
No início desse período de oito anos não tive problemas, até porque não havia curiosidade sobre a minha pessoa. Dificuldades começaram a partir da reportagem que fiz sobre hábitos do presidente Lula, hábitos comentados no País. Como eu não podia me defender das reações à matéria, certos jornalistas daqui me trataram como se eu fosse a Geni da música do Chico Buarque: vamos jogar pedra porque ele não pode reagir. Continuei trabalhando, calado. A partir do momento em que entreguei meu cargo ao NYT, tornei-me um profissional desimpedido e as regras mudaram. Estou escrevendo um livro sobre o Brasil, contando bastidores dos momentos polêmicos que vivi e oferecendo minha visão dos fatos. Não vou embora de imediato, como alguns órgãos da imprensa têm noticiado. Vou ficar até terminar o livro, no começo do ano que vem.

Sua experiência brasileira se divide em duas fases: antes e depois da matéria polêmica?
Sim e não. Na verdade, minha chegada ao Brasil em 1998 coincidiu com o início do boom da internet. Correspondentes que no passado escreveram sobre o País não foram lidos por brasileiros porque não havia internet. A repercussão que suas matérias suscitavam vinha de segunda ou terceira mão. A partir de 1999, 2000, os brasileiros começaram a ler nos computadores o que se publica sobre o País fora daqui. E, vejam bem, não escrevi esse tempo todo para brasileiros, mas para o público americano, com uma linguagem adequada ao entendimento de lá. Vocês tinham todo o direito e liberdade para acompanhar o que eu estava produzindo, mas talvez não devessem perder de vista que não eram meu público-alvo. Então, os leitores brasileiros passaram a se incomodar com coisas tolas, inofensivas, como quando comparei Caetano Veloso a Bob Marley. Ou quando escrevi que Niterói é para o Rio de Janeiro o que Oakland é para San Francisco. Fiz isso para os americanos entenderem. Com o tempo percebi que as reações eram parte do jogo. E tratei de aceitá-las.

Outros correspondentes estrangeiros, colegas seus, compartilham essa impressão de que a internet os tornou mais visíveis e vulneráveis?
Sim. Eu não saberia dizer que tamanho tem meu público brasileiro na internet, mas é muita gente. O leitor daqui, como qualquer outro, tem curiosidade sobre si mesmo: o que estão dizendo de mim lá fora? O que falam do meu País? Isso é natural. O NYT, dos grandes jornais americanos, talvez seja o mais lido na internet.

Acha mesmo que o presidente queria ir às últimas conseqüências?
O que eu acho é que, desde o início do caso, o presidente foi mal assessorado. Difícil saber o que de fato aconteceu no Palácio do Planalto naqueles dias, mas tudo indica que as coisas ficaram muito ruins pro meu lado. Só mudaram de curso quando o então senador Sérgio Cabral entrou com um habeas-corpus a meu favor. Ali, e só ali, senti que, num eventual julgamento da questão, o Supremo, inteiro ou em boa parte, ficaria contra o governo. O ministro Márcio Thomaz Bastos (da Justiça) não tinha outra opção a não ser costurar um acordo.

Além da reação do Planalto, sua matéria causou uma longa e estridente questão na imprensa brasileira. Jornalistas sustentam que você afirmou coisas graves sobre o presidente, sem apresentar provas.
Mas provar o quê? Eu não sou tira nem médico para provar... Havia um tremendo zunzunzum no meio político. Brizola teve a coragem de afirmar publicamente o que se comentava. E, claro, Brizola não foi minha única fonte. Escrevi refletindo o ambiente: o presidente brasileiro tinha um hábito que o estaria prejudicando no exercício do poder. Isso eu não inventei! Mas setores da imprensa, liderados pelo jornal O Globo, ou melhor, pelas Organizações Globo, resolveram me atacar. Acho que há uma obsessão com o que sai no NYT. Matérias que fiz foram mal interpretadas, mal traduzidas, publicaram-se coisas que nunca disse, fico indignado. Por exemplo, escrever que eu disse que a Garota de Ipanema hoje é gorda? Que absurdo! Era um janeiro em que nada acontecia no Rio, então o jornal criou uma polêmica xenofóbica, baseada em mentiras.

Recapitulando: você fez uma matéria afirmando que o brasileiro tem uma dieta alimentar pobre em nutrientes, mas rica em gorduras e carboidratos, o que estimularia a obesidade na população. E ilustrou a reportagem com fotos de mulheres gordas, numa praia do Rio. Só que elas eram checas, e não brasileiras. Certo?
Certo. E o que o Globo fez? Desqualificou meu trabalho, sabendo que eu não faço fotos e nem estava com o fotógrafo quando ele capturou as imagens. O jornal também disse que o NYT publicou cinco fotos da série, quando usou apenas duas. E o nosso ombudsman acusou o erro do fotógrafo. Os critérios da imprensa americana são mais rigorosos que os critérios da imprensa brasileira. (Nota do jornalista Rodolfo Fernandes, diretor de redação de O Globo: “ O jornal não tem ‘obsessão’ com o que sai no NYT. Tem respeito por seu padrão de qualidade. O que não impede que o NYT erre. Como no caso do presidente Lula, quando se baseou em fontes desqualificadas. No caso da ‘Garota de Ipanema gorda’, o Globo descobriu que era uma reportagem errada e o ombudsman do NYT pediu desculpas”.)

Então falemos de critérios. Quais são os seus?
Ouvir os dois lados sempre. Se possível, ouvir todos os lados da questão. E tentar refletir fielmente idéias ou posições.

Zunzunzum vale como notícia?
Naquela situação, sim. Comecei a apuração e procurei o Planalto. Queria falar com o presidente. Não fui recebido, mal consegui tratar com a assessoria dele. O secretário de imprensa, Ricardo Kotscho, não me recebeu. Falei com o número 2, Fábio Kerche. Apresentei minhas questões. Aguardei uma manifestação por dez dias e nada. Até que aconteceu um fato, que vou revelar no livro, e voltei a fazer contato com o assessor. Disse-lhe: “A coisa vai sair. Se vocês quiserem se manifestar é agora”. Ainda coloquei uma declaração transmitida pelo assessor na minha matéria. Mas jamais me receberam, jamais quiseram saber o que eu sabia.

Como era a sua relação com o governo antes da matéria?
A relação com o PT sempre foi difícil para qualquer correspondente estrangeiro. Com o PFL, o PSDB, o PMDB não há a mesma veemência ao reagir às reportagens que saem no exterior. Mas, quando se trata do PT, a chiadeira é quase infantil. Fiz uma matéria sobre a relevância política do divórcio de Marta e Eduardo Suplicy, figuras de destaque na política nacional. Cumpri uma pauta que esteve presente em todos os veículos de comunicação do País. Quando saiu a reportagem, o Genoino, então presidente do partido, escreveu uma carta de quatro páginas, reclamando que o tema não era legítimo, que era sensacionalismo. Em outra oportunidade, lá veio carta do Bernardo Kucinski alegando que o PT não tem facções, nem grupo xiita. Ora, o Brasil sabe que o PT tem. Havia dificuldades de comunicação com os ministérios, salvo algumas exceções. Como o José Viegas. Quando ele esteve na Defesa, soube lidar muito bem com os correspondentes.

Invertamos a situação: se um correspondente brasileiro assinasse a mesma matéria sobre o presidente americano, o que aconteceria?
Já aconteceu! Já se falou de Bush e seu consumo de bebidas.

Em relação a tempos de juventude, ao passado dele.
E que estaria curado, convertido, Bush nasceu de novo... Passamos por escândalos imensos, como o caso Monica Lewinsky, no governo Clinton, e o país continuou firme. Eu acharia uma bobagem impugnar Clinton por esse motivo. Curiosamente, na época em que eu estava fazendo a matéria sobre Lula, gente do Planalto tentou me dissuadir do trabalho lembrando justamente o affaire Clinton-Lewinsky, argumentando que a intimidade de um presidente não é pauta. Respondi que qualquer tópico que tenha a ver com o desempenho do presidente é pauta.

Você sofreu algum tipo de repreensão da parte do New York Times?
Eu, nunca. Houve cartas ao jornal e o então embaixador brasileiro em Washington, Roberto Abdenur, por quem tenho grande respeito, cumpriu o papel que lhe cabia. Falou com a direção do NYT, mas o jornal ficou firme. Isso não ficou claro na imprensa brasileira. Houve muita distorção. Falou-se que eu teria me refugiado no escritório do meu jornal em Buenos Aires. Ao contrário, eu estava lá e voltei quando vi a confusão armada! Vi toda a crise aqui no Rio, assistindo do meu apartamento à cobertura e consultando ao mesmo tempo meus advogados. Não saí do País, o ombudsman do NYT não se manifestou, não houve pedido de desculpa do jornal, não houve carta ao governo, nada. Apenas um recurso para revogar a ordem de expulsão, medida legal, preparada por advogados brasileiros.

Durante a crise, com quem você falava no New York Times?
Quando um governo tenta expulsar um correspondente o assunto é sério. Chegou à cúpula. Falei muito com Bill Keller, o editor-chefe, também pela experiência que ele teve como correspondente na URSS e na África do Sul. Bill sabe que às vezes os governos reagem com o fígado. A questão toda era como contornar a crise, porque eu queria continuar no Brasil e o jornal também queria isso.

O zunzunzum que você refletiu na matéria era exagerado? Ou melhor: hoje vê alguém argumentando que Lula tem problemas em governar porque beberia?
Não, não. Hoje ele enfrenta dificuldades de outra ordem. Até o Luiz Furlan, quando ainda era ministro, falou que o problema não existe mais. Comentou isso logo no início da segunda campanha. Disse que o presidente havia perdido peso, que estava com a maior disposição, que deixou de beber.

Sua matéria, por caminhos tortuosos, teria contribuído para isso?
Prefiro deixar a resposta para o livro. Mas tenho amigos no PT que têm feito comentários nesse sentido.

Quantas vezes você esteve com Lula, dentro ou fora da presidência?
Ele diz que nunca tomou um guaraná comigo. Não é bem assim. Como correspondente da revista Newsweek, passei quase uma semana acompanhando Lula em 1978, na greve do ABC. Eu o segui em andanças pela América Latina e possivelmente assinei a primeira matéria sobre ele na imprensa americana. E era favorável ao líder metalúrgico que despontava.

Você disse que tem amigos no PT. Quem lhe deu apoio?
Não vou dizer os nomes porque eles podem ter problemas.

Foi gente do primeiro escalão?
Não posso dizer. Não vou queimar pessoas que estimo.

O fato de ser casado com brasileira e ter filhos brasileiros ajudou a pacificar as coisas?
Sim. Tive uma família para me apoiar, parentes de minha mulher foram importantes naquele momento. A execração pública dói. Não é fácil ver seu nome citado na TV, nos jornais. Minha mulher foi fazer compras e quando apresentou o cartão de crédito a pessoa do caixa disse: “Ah, então você é mulher dele”. Isso aconteceu. Para ela foi mais difícil, para mim era parte do jogo. Como dizia Harry Truman, se você não agüenta o calor, melhor sair da cozinha.

Como você vê as relações entre mídia e poder no Brasil?
Durante a ditadura eu admirava a imprensa brasileira. Ali existia um jornalismo que era vocação, não só carreira. A morte de Vladimir Herzog foi algo que me marcou. O próprio Estado, ao publicar trechos de Os Lusíadas, para resistir à censura, foi algo tocante. Ali vi imprensa de qualidade. Jornalistas e empresas de comunicação até pagaram um preço alto por isso. Hoje em dia, as coisas são diferentes. Há jornalistas de gabarito, mas a imprensa brasileira navega num mar de mediocridade, com algumas ilhas de excelência.

Sua crítica aplica-se somente ao Brasil?
Não. Atravessamos uma época em que entretenimento e jornalismo se confundem, isso no Brasil, nos EUA, na Europa, no mundo inteiro. Uma época em que o jornalista quer ser celebridade, especialmente na TV. Porque os valores são outros, os interesses,também. Ah, talvez eu esteja ficando velho...

A imprensa brasileira é tolerante ou crítica demais com o poder?
A questão é outra. Governar é fazer coisas. E fazer jornalismo é criticar. A crítica é um elemento-chave na profissão. Não vou ao extremo do “si hay gobierno soy contra”, mas é papel da imprensa olhar os governos e dizer “aqui está errado”. Agora mesmo, o grave acidente aéreo de SP virou símbolo de uma crise maior. Quais as razões que levaram ao desastre em Congonhas? Não sabemos. Mas há uma crise maior, crise nos serviços, afinal, somos usuários, não há como negar. Então, por que dizer que a cobertura está exagerada? Quem não lembra das críticas ao apagão de energia, feitas pelo PT, no final do governo do FHC? Falta de planejamento, falta disso, falta daquilo. Era uma crítica perfeitamente compreensível. Lembremos de como Bush apanhou da imprensa americana depois do furacão Katrina. E mereceu apanhar! Ver aqueles velhos morrendo em frente do estádio foi terrível. Pois ver os corpos carbonizados em Congonhas produz o mesmo sentimento. O povo sabe julgar. E nós, na mídia, somos instrumentos dessa opinião pública que ora castiga, ora absolve.

O que o incomodou mais: a reação do governo ou dos veículos?
Crítica injusta sempre dói, não importa de onde venha. No caso da imprensa, houve mais hipocrisia, pois trataram de bater num jornalista estrangeiro, o gringo que falou coisas que essa mesma imprensa já vinha falando, por códigos. Não fiquei magoado. Fiquei indignado.

Qual é o peso da cobertura latino-americana no NYT?
Com a guerra do Iraque, ficou mais difícil conseguir o espaço que sempre estou querendo. Mas a cobertura é ampla. Tudo o que acontece aqui é pauta, em três grandes áreas: política, economia e cultura. Só que também escrevo sobre religião, esporte, sociedade.

Foi divulgada uma pesquisa segundo a qual 69% dos americanos não sabem quem é Lula.
Não causa espanto. Quando eu era correspondente para a América Central, nos anos 80, fiquei deprimido com uma pesquisa de opinião mostrando que só 15% dos americanos sabiam de que lado os EUA estavam nos conflitos na Nicarágua e em El Salvador. O governo Reagan estava com os sandinistas? Apoiava os contras? A população estava por fora. Se hoje um terço dos americanos sabe quem é Lula é um avanço, até porque no Brasil não tem guerra. A biografia de Lula impressiona e ele seguramente é mais conhecido nos EUA do que o Fernando Henrique. Clinton era filho de uma enfermeira, mãe solteira, cresceu num Estado pobre. Isso contou muito. Lula é parte da nossa mitologia. Lembra romances do Horatio Alger Jr. (escritor americano do século 19), histórias de garotos pobres em busca do sonho americano.

A cobertura sobre o Brasil nos EUA não é um tanto folclorizada?
Eu diria que vocês, jornalistas, se preocupam muito com isso. A época da cobertura exótica, do tipo futebol-praia-samba-carnaval, já passou. Neste momento o enfoque principal dos jornalistas estrangeiros em relação ao Brasil é o etanol. Eu mesmo já fiz matérias sobre Fapesp, Embraer, sobre todos os aspectos da cultura brasileira, não entendo quando dizem que só queremos o exótico. Não é verdade.

A revista The Economist disse que o brasileiro ou se sente o máximo ou no fundo do poço. Faz sentido?
Um jornalista brasileiro me disse “somos o Mohammed Ali do mundo em desenvolvimento, os maiores e piores ao mesmo tempo”. Eis o Brasil dos extremos. Quando escrevo sobre praia, futebol e mulher bonita, tem gente que pensa que estou folclorizando o País. Mas esses assuntos são parte da realidade, não há como ignorá-los. Já quando escrevo sobre as mazelas brasileiras, como miséria e racismo, daí um setor ufanista se levanta e grita “não toque no País!” Amigos brasileiros já me disseram: “Nós podemos falar essas coisas, você não”. Sou admirador de Nelson Rodrigues, que cunhou aquela expressão imortal em relação ao brasileiro, o “complexo de vira-lata”. Isso entra nessa conversa.

Você pediu um ano sabático no NYT para escrever um livro. Fale sobre esse projeto.
Não preciso de um ano sabático, mas de meses sabáticos, pois o livro já vinha sendo escrito. Sabe como é, uma noite numa cidade como Humaitá, no Amazonas, o que fazer depois do jantar? Eu escrevo. Minha intenção é revelar os bastidores de reportagens minhas. Ao mesmo tempo, transmitir a experiência que vivi nesses anos todos. Minha convivência com o Brasil vem lá de trás, dos tempos da ditadura e do general Médici.

Que idade você tinha quando pisou pela primeira vez neste país?
Tinha 22 anos e era funcionário da Rede Globo em Nova York. Vim trabalhar no Festival Internacional da Canção, no Rio.

O que você fazia na Globo de Nova York?
Um pouco de tudo. Ajudava na área de música, comprava matérias de revistas americanas e fazia produção para o Fantástico, que estava nos primórdios. No Brasil fui me deixando ficar, mais na condição de estudante em viagem. Eu fazia pós-graduação na Columbia University, em História Moderna e Política da China. O que me atraiu no Brasil? A cultura, começando pela música. E a maneira como o brasileiro, no dia-a-dia, driblava a ditadura. Num país como a Argentina ou o Chile era diferente. Lá, o sistema político repressivo passou a controlar todos os aspectos da vida. Aqui, não. Descobrir isso foi fascinante. Consegui então um emprego no Washington Post, primeiro como crítico de música, depois de cultura popular, e assim fui criando vínculos com o Brasil. Milton Nascimento já disse que a primeira reportagem sobre ele na imprensa americana foi assinada por mim. Eu queria era vir para cá.

Como foi encarar os militares em 1974, quando você finalmente desembarcou no Brasil como correspondente do Washington Post ?
Muito difícil. Em 1978, fui a Marabá fazer uma matéria sobre a guerrilha do Araguaia e o general Hugo Abreu mandou me prender. Com a ajuda de pessoas amigas, pude me esconder até que as coisas se acalmassem em Brasília. Com a visita ao País do Jimmy Carter, no mesmo ano, a ditadura ficou muito ligada, porque ele poderia falar de tortura, prisões. Ali, eu me aconselhei muito com Raymundo Faoro. A mulher do Carter, Rosalyn, tinha um casal de amigos em Pernambuco, da família Steiner. Por meio desse contato ela sabia dos abusos que ocorriam no Brasil. Foi um momento tenso, o governo Carter não queria que os EUA vendessem armamento para o Brasil. Foi daí que o País começou a se esforçar para criar uma indústria bélica nacional. Heitor de Aquino, secretário do Geisel, chegou a reclamar das “matérias tendenciosas de Larry Rohter”.

Na ditadura, você correu o risco de ser preso. Agora, com o País redemocratizado, correu o risco de ser expulso. Como recebe isso?
Pior: em 2004 corri o risco de ser expulso com base em lei dos anos 70, dos anos de chumbo. O Lula, perseguido pela ditadura, recorreu a uma lei da própria ditadura para me punir. Horrível.

Já o chamaram de agente da CIA ou espião do governo americano.
Paranóia que acaba por prejudicar o trabalho do correspondente. É um absurdo pensar que eu seja agente da CIA, ou do Departamento de Estado, ou de qualquer outro organismo do governo americano, como afirmaram pessoas como o ex-ministro Luiz Gushiken e frei Betto. Disseram que minha atuação no Brasil obedecia a interesses externos porque o Lula estava na luta contra a fome no mundo, em disputas na OMC, que o País estava se projetando mais, então essa “gente de inteligência” vem para cá acabar com o Lula. Absurdo! Basta pesquisar minhas matérias no Google para descobrir que eu já fazia artigos favoráveis à luta do Brasil contra o protecionismo na OMC, só para citar um exemplo. Claro, fiz matérias contundentes sobre a Amazônia e os militares até se ofenderam. Recentemente, visitei uma aldeia ianomâmi, que fica ao lado de uma base militar, e constatei que soldados mantinham relações com meninas indígenas, inclusive engravidando-as. Fiz a reportagem. E os militares ficaram zangados com a “intromissão”.

Sua área de cobertura abrange os países do Mercosul. Mas você também cobriu a Venezuela, não?
A cobertura atual, focada nos países do Mercosul, resulta de uma reconfiguação das áreas de correspondência do NYT. Em 2000 e 2001, também tive que assumir Colômbia e Venezuela. Depois o jornal fechou o escritório em Buenos Aires, para tristeza dos argentinos, que até nisso competem com os brasileiros, e abriu um escritório em Bogotá, mais tarde transferido para Caracas. Acabei ficando com a cobertura do Mercosul, sediado no Rio. A última grande reportagem que fiz na Venezuela foi a tentativa de golpe contra o Chávez, em 1999.

Você teve problemas em outros países do continente?
Chávez reclama de modo geral da imprensa estrangeira. Minha relação com os chilenos é ótima. O governo Lagos foi, disparado, o melhor em termos de relacionamento com os correspondentes. Isso continua com Michelle Bachelet. Agora, a Argentina é difícil. Kirchner não gosta de imprensa - nem da nacional, nem da internacional. Tive outras experiências no passado, como ser correspondente em Cuba.

Exatamente em que período?
Fidel, claro (ri). Em 61, o NYT teve que fechar sua sucursal em Havana e desde então pedimos vistos quando precisamos trabalhar na ilha. A primeira vez que fui a Cuba foi nos anos 80, durante a crise de Mariel (milhares de refugiados pediram asilo na Embaixada do Peru, em Havana, e o governo cubano então resolveu facilitar a saída de 130 mil pessoas, pelo porto de Mariel). O ano de 1980 foi curioso: em abril, fui preso no Chile, pela guarda naval de Pinochet. No mês seguinte, expulso da Cuba de Fidel.

Como você foi expulso de Cuba?
Ainda trabalhava para a Newsweek. Eu estava hospedado num hotel e simplesmente bateram à porta do meu quarto dizendo: “Seu visto acaba de expirar. O senhor volta no próximo vôo”. Me levaram para o aeroporto e o vôo era num DC3 da 2ª Guerra Mundial. Durante a viagem, uma janela quebrou e descolou do corpo do avião. Estávamos a 6 mil pés. Um jornalista da rede CBS, que estava a bordo, tapou o buraco com uma placa de metal e fita adesiva. Seguimos viagem.

Você voltou a trabalhar por lá?
Sim. Nos anos 90, voltei à ilha algumas vezes, momentos em que o governo cubano queria repercutir alguma coisa nos EUA, por meio do jornal NYT. Cheguei a jantar duas vezes com Fidel. Numa delas fui com meu chefe e Fidel estava em companhia de Gabo (apelido do escritor Gabriel García Márquez). Na segunda vez, estavam no jantar filhos do senador Robert Kennedy, morto em 1968. Nessa época eu morava em Miami e sintonizava a Rádio Mambi, que vivia martelando ataques contra Fidel. Um belo dia ouvi o locutor da rádio dizendo “el corresponsal comunista de New York Times acaba de publicar una nota....”.. Olha só, fui chamado de comunista pelos anticastristas de Miami.

E a prisão no Chile?
Foi em Puerto Montt, cidade encantadora, num lindo domingo. Eu estava lá tirando fotos e chegou um policial com ordem de prisão. Me levaram para a base e diziam que eu era espião argentino. Era época da disputa pelo Estreito de Beagle entre Argentina e Chile. Não é insólito? Falo espanhol com sotaque caribenho, não como sul-americano. Mas cismaram comigo.

Há governos de perfil populista na América Latina, cujos líderes querem falar direto com as massas, sem intermediação. Isso complica o trabalho do correspondente?
Lula não é da mesma escola do Chávez. Nem Evo Morales. Para mim, eles são diferentes. Sei que esses líderes querem um contato direto com o povo, mas também querem contato com o governo dos EUA. Daí a mídia estrangeira ser importante para eles. Somos um canal. E os presidentes sábios sabem aproveitá-lo.

Que balanço você faz dos anos passados no Brasil?
Vivi muita coisa. Fiquei doente na Amazônia, um prefeito do Pará quis me matar ... se mataram até uma freira, por que não iriam fazer o mesmo comigo? E hoje tem esse drama da violência urbana, problema sério - embora não seja difícil para um repórter estrangeiro subir um morro do Rio, é só combinar com a pessoa certa. Também tive momentos prazerosos. Como ouvir um nordestino falando. Adoro o sotaque! O português é o sotaque que mais aprecio dentre as várias línguas que falo (inglês, espanhol, português, mandarim e russo). Mas o nordestino é campeão na criação de frases e expressões. Isso explica a coleção que tenho de cordel. Tenho mais de 2 mil livrinhos, colecionados em 35 anos de viagens. Na verdade, descobri o cordel no Rio, na Feira de São Cristóvão. Fui me aproximando desses artistas nordestinos, especialmente dos pernambucanos. J.Borges, cordelista e famoso pelas xilografias, virou amigo. Dila, poeta popular de Caruaru, é um gênio, sobretudo em temas relacionados a Lampião e Maria Bonita. Dila até me retratou na capa de um cordel. Gosto da música brasileira de A a Z literalmente, de Arnaldo Antunes a Nação Zumbi. Gilberto Gil é sensacional. Como instrumentista, poeta, ministro. Tem aquele traço que reconheço nos brasileiros: generosidade de espírito. E pensar que ele, ao sair da prisão, no DOI-Codi da rua Barão de Mesquita, embarcou num avião e compôs Aquele Abraço... Isso demonstra a pessoa extraordinária que é.

Escritores brasileiros favoritos.
Li um bocado: Márcio de Souza, também amigo. E li Clarice, Moacyr Scliar, Dalton Trevisan, Euclides da Cunha, Machado de Assis... O Brasil é uma potência cultural, tentei passar isso lá fora. Meses atrás, fiz um artigo sobre uma caixa de seis discos, gravações feitas no Nordeste, nos anos 30, por encomenda de Mário de Andrade. A matéria não apenas ficou na lista das mais lidas do NYT como as gravações foram incluídas nas listas de MP3 e executadas por milhares de leitores. Escrever sobre um romancista brasileiro contemporâneo, como Luiz Alfredo Garcia-Roza, apresentando-o para o leitor americano, é gratificante.

E abriu as portas do mercado editorial americano para ele. Mas no Brasil tem muito impacto o que vem de fora. Tanto que Henfil criou o bordão “deu no New York Times”.
O que é um peso. Trata-se apenas de um jornal.

E no futebol, a paixão nacional?
Ah, sou amante do beisebol, do Chicago Cubs, meu time, minha doença. A paixão pelo beisebol facilitou minha relação com Chávez. Ele adora o esporte. Foi arremessador, canhoto inclusive, e sabe tudo. Poderia tranqüilamente ganhar a vida como locutor de beisebol. No Brasil, direi que sou mais ou menos vascaíno.

Você será correspondente em outro lugar? Ou se vê trabalhando na redação do NYT?
Não sei o que virá depois dos meses sabáticos. Ficar oito anos e meio num posto, como fiquei aqui, é recorde no jornal. Porque peguei um momento interessante no Brasil, faço uma cobertura ampla, o que é cada vez mais valorizado nos dias de hoje. Definições sobre meu futuro vão depender do resultado das eleições presidenciais nos EUA. Lutei muito para aprender a falar, ler e escrever o mandarim - e faço as três coisas. Seria talvez interessante voltar para a China. No meu primeiro período como correspondente no Brasil saí do Rio para Pequim. Talvez seja bom refazer a rota e terminar a carreira na China.

Hoje, se você estivesse com Lula numa entrevista, perguntaria o quê?
Na comissão que investigou o escândalo Watergate, o senador Howard Baker repetia sempre a mesma pergunta em relação a Nixon: “What did the president know and when did he know it?” É a questão fundamental. Pois eu perguntaria a Lula a mesma coisa em relação ao mensalão: “Presidente, o que o senhor sabia e quando soube?”

PRIMEIRO CONTATO
“Devo ter feito a primeira matéria sobre Lula nos EUA, em 78. E favorável ao líder que surgia”

CHILE DE PINOCHET
“Me levaram para a base e diziam que eu era espião argentino.Não é insólito?”

CUBA DE FIDEL
“Bateram à porta: ‘Seu visto acaba de expirar. O senhor volta no próximo vôo’”

TACADA EM COMUM
“A paixão pelo beisebol facilitou minha relação com Chávez. Ele adora o esporte. Sabe tudo”

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

A Ilusão das relações raciais

Os dois textos que seguem abaixo são da profª Rosa Lopez que será usado na próxima aula de Realidade Socio Econômica no dia 11/09 segunda-feira... quem não conseguir visualizar ou imprimir, ´tem uma cópia na xerox e outra comigo destes dois textos:
* "A Ilusão das relações raciais" (este enviarei por e-mail à vocês)
* "Justiça penal é mais severa com os criminosos negros"

ConCiência - Jornalismo Científico

ComCiência – Revista Eletrônica de Jornalismo Científico (Realização: Labjor - Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo/Unicamp e SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência)

http://www.comciencia.br/entrevistas/negros/adorno.htm

Justiça penal é mais severa com os criminosos negros

O Brasil vive um cenário de profunda desigualdade social e econômica, em que grande parte de sua população é excluída dos direitos que lhes são garantidos constitucionalmente, segundo um processo marcado pelo preconceito e pela estigmatização de classes e etnias. Para o sociólogo Sérgio Adorno, da USP, dentro desse contexto, os negros são preteridos em praticamente todas as esferas de acesso ao bem-estar e, em especial, na justiça. Durante o 27º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), realizado no mês de outubro, em Caxambu (MG), Adorno concedeu esta entrevista para a ComCiência, explorando as relações entre justiça, igualdade jurídica e juízo, sob o ponto de vista da influência do racismo e dos preconceitos raciais na distribuição da justiça penal. Para ele, o crime não é um privilégio da população negra, mas a punição legal parece ser.

ComCiência - Por que grande parte da população brasileira é excluída de direitos garantidos constitucionalmente?
Sérgio Adorno - Ainda somos uma sociedade profundamente desigual e a desigualdade não é apenas uma desigualdade de oportunidades mas é, sobretudo, uma desigualdade de direitos e de acesso às instituições promotoras de bem-estar e de distribuição da justiça. Acho que isso, de certo modo, não é um problema novo e, evidentemente, tem raízes históricas que vêm perdurando ao longo do tempo.

ComCiência - A cor é um elemento fundamental para a compreensão desse processo de exclusão?
Adorno - As raízes da questão da cor estão, sem dúvida alguma, ligadas à escravidão e ao fato de que, após o fim da escravidão, não houve uma luta social, uma luta política para a reversão desse quadro. Não existiram lutas sociais no sentido de que os negros ex-escravos e filhos de ex-escravos, de alguma maneira, fossem incorporados ao mercado de trabalho, que fosse criada uma base para a sua escolarização etc. Acho que isso ocorreu no final do século XIX e, ao longo de todo o século XX, isso permaneceu como um grande desafio para toda a sociedade brasileira. De modo geral, os negros são preteridos em praticamente todas as esferas de acesso ao bem-estar, de promoção do bem-estar, de proteção dos direitos. Essa desigualdade não é apenas uma desigualdade sócio-econômica, é uma desigualdade racial. Ela tem fortes componentes que realmente alteram oportunidades de vida e de todos terem acesso aos direitos mínimos, inclusive à vida.

"Há uma idéia de que o crime está necessariamente ligado à pobreza e que a pobreza está necessariamente ligada com a cor. Nesse caso, a pobreza tem cor: a cor negra"

ComCiência - Como esse tipo de discriminação afeta o modo como a pessoa negra é percebida no sistema de justiça?
Adorno - De certa maneira, todos aqueles que aparentam ter sinais de pertencimento às classes populares, sobretudo aqueles que se afiguram miseráveis, pobres, que não tenham sinais de pertencimento à ordem social, ao mercado de trabalho, à escola, a uma vida pública, de obediência e de respeitabilidade, de um modo geral, constituem grupos sociais que são discriminados do ponto de vista da lei e da ordem. Entre esses, os negros parecem mais preteridos do que os outros. Há um foco que vê grupos de cidadãos provenientes das classes populares, sobretudo negros, como potencialmente perigosos, como se associasse imediatamente a idéia de que o crime está necessariamente ligado à pobreza e que a pobreza está necessariamente ligada com a cor. Nesse caso, a pobreza tem cor: a cor negra.

ComCiência - Isso é um fenômeno tipicamente brasileiro?
Adorno
- Não. Acho que em todas as sociedades isso ocorre com muita freqüência. Por exemplo, na França, na Inglaterra e sobretudo nos EUA, os negros de origem africana são freqüentemente discriminados. O que me parece diferente é a atitude dos cidadãos e das cidadãs em relação a isso. Nos EUA, hoje, esse tipo de discriminação causa muita indignação. Há o preconceito, mas, de alguma maneira, existe uma indignação. O que me incomoda no Brasil é que esses segmentos indignados são muito pequenos, têm pouco peso para se expressar publicamente e a maioria das pessoas acha, muitas vezes, que isso é normal ou, se não é normal, que um dia vai mudar. Enfim, é como se fosse a ordem natural das coisas.

ComCiência - Como esse preconceito é refletido no funcionamento da justiça?
Adorno
- Quando falamos do racismo nas instituições de controle social, particularmente na polícia e nas instituições de justiça, é preciso levar em consideração que esse fenômeno não é específico dessas instituições, ele é uma expressão daquilo que acontece na sociedade. Você encontra o racismo no trabalho, nos espaços públicos, na escola, em coisas elementares da vida cotidiana. O que acontece é que estamos tratando de uma instituição de controle social, que tende, de alguma maneira, a distorcer a realidade no sentido da polarização entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, entre quem obedece e quem não obedece. Então, na justiça, a questão racial acaba adquirindo uma visibilidade que não necessariamente aparece tão visível fora dela.

"O racismo, nas instituições de controle social, particularmente na polícia e nas instituições de justiça, é uma expressão daquilo que acontece na sociedade"

ComCiência - Há quanto tempo o senhor lida com essas questões em suas pesquisas?
Adorno - A questão da distribuição das sentenças comparativamente a brancos e negros, ou seja, a punição legal aplicada a brancos e negros, é um tema que me interessou porque, em contatos com o movimento negro e muitas vezes estudando diferentes questões sobre a justiça, eu vi que se tratava de uma área de absoluta evidência de racismo e sobre a qual não existiam estudos nesse sentido. Falava-se que a polícia perseguia mais o negro, que o negro era mais punido etc. Mas o que era isso na verdade? Foi a partir disso, com o apoio da Fundação Ford, que resolvi fazer uma pesquisa tomando processos penais do estado de São Paulo, no início da década de noventa. Assim, comparei rigorosamente a distribuição de sentenças penais para crimes rigorosamente idênticos, dentre os quais figuravam o roubo, o tráfico de drogas, o latrocínio, o tráfico qualificado e o estupro. Eu montei um sistema de controle de maneira que pude dizer que as diferenças de punição para brancos e negros não se deviam às tipificações penais.

ComCiência - Quais foram os resultados dessa comparação?
Adorno
- Ao fazer essa comparação, não pude verificar se, por exemplo, na porta de entrada da justiça, os negros cometem mais crimes do que os brancos. Isso é algo difícil de se fazer e envolveria outro tipo de pesquisa, mas cheguei à conclusão que isso não era muito relevante. Ao fazer essa comparação descobri, primeiro, que os negros eram proporcionalmente mais condenados do que brancos pelo mesmo crime. Não em termos da duração da pena, que não variava muito. Quer dizer, quando eles eram punidos, as sentenças eram muito próximas, não havia variações significativas. Mas, por exemplo, 59,4% dos brancos observados foram condenados e 68,8% dos negros foram condenados. A diferença foi de quase 10%. Outra coisa que eu percebi foi que os negros dependiam muito mais da justiça pública do que os brancos. Os brancos, de um modo geral, tinham mais condições de ter acesso à defesa particular contratada, sendo que os negros, muito pouco. Era uma coisa interessante porque o que chamou atenção foi o fato de que, se eu fosse olhar do ponto de vista sócio-econômico, os brancos e negros que estavam sendo objeto da justiça não eram muito diferentes. De modo geral, os negros tinham uma taxa maior de não ocupados, tinham uma escolaridade um pouco mais baixa, mas nada que dissesse que eu estava lidando com classes sociais, com segmentos de classes, completamente diferentes.

ComCiência - Nesse caso, se o perfil sócio-econômico de brancos e negros era bastante semelhante, o que explica essa diferença de acesso à justiça?
Adorno
- Aqui eu quero fazer uma nota, porque se trata de um assunto polêmico. Não posso dizer que é a qualidade de defesa de um e de outro, não tenho como avaliar isso. Eu só vi, e a tendência era essa, que com um bom advogado particular a tendência era a absolvição. Com um advogado do Estado a tendência maior era a condenação. Eu acho que o problema não é necessariamente a qualidade da advocacia, mas talvez tenha a ver com um caráter mais burocrático dos serviços públicos. Isso me chamou a atenção e era uma coisa que eu gostaria de ter pesquisado mais profundamente. O que me explicava isso era o fato de que era diferente a ligação de brancos e negros com o mundo do direito. Provavelmente, o que ocorre com brancos, é que alguém tem um conhecido que é advogado. Os brancos estavam numa malha de relações de direito que não existia necessariamente para os negros. Os negros dependiam do serviço do Estado, porque eles provavelmente não tinham essas referências no mundo da legalidade. Então, o caráter perverso está aí.

ComCiência - Perverso por quê?
Adorno - Porque é aí que está o problema do acesso diferencial ao direito. Quer dizer, é fato você ter uma vida na qual, de alguma maneira, a proteção legal é mais presente para um e para outro ela é mais ausente. Ausente não só no sentido de que ela não é freqüente, mas as referências não são aquelas convencionais da lei. Eu acho que isso está mudando, porque hoje você tem mais advogados negros, já existem juízes negros.

ComCiência - De que maneira essa dinâmica de acesso diferencial aos direitos contribui na constituição da população carcerária?
Adorno
- Acho que isso ocorre de uma maneira muito sutil. Eu nunca cheguei a observar se havia hierarquias internas fundadas na cor e na etnia. Não posso dizer nem sim, nem não. Talvez até tivesse algum fundamento, mas não sei dizer. Nas prisões havia manifestações muito sutis por parte dos agentes penitenciários que sugeriam para nós que os negros eram potencialmente perigosos comparativamente aos brancos. É uma cultura que não é uma cultura da prisão, é uma cultura que vem de fora e que na prisão acaba sendo reforçada. Na prisão há uma sensação de que a vida é muito perigosa, de que todo mundo, de alguma maneira, está tentando atacar o outro. É uma vida cheia de tocaias. A vida na prisão é muito precária, tanto que nela o grande aprendizado é montar estratégias subjetivas para sobreviver num ambiente de perigo. O que me parecia, era que a cor, de algum modo, tornava a vida ainda mais perigosa. O negro era aparentemente aquele de quem se suspeitava ataques mais freqüentes, era aquela imagem de ser mais perigoso etc. Nas prisões também havia uma vigilância mais cerrada no sentido de ficar vigiando grupos de negros. Enfim, é um preconceito que vem da sociedade, mas que, pelas condições de controle social, é exacerbado na prisão. A prisão tem essa coisa de caricaturar as perversões da sociedade.

ComCiência - Entender a lógica desse sistema ajuda a desmistificar essa imagem do negro como um delinqüente em potencial?
Adorno
- Pelos estudos que eu fiz e pelo que eu li, não estou convencido de que negro seja potencialmente mais violento do que branco. Isso para mim é um mito construído em cima da idéia de raça. Uma segunda coisa que é fundamental: muitas pessoas falam que basta ir a uma prisão e ver que lá existem muito mais presos negros do que brancos. Quando você faz a comparação com a distribuição da cor e da etnia na população, você vê que proporcionalmente existem mais negros dentro da prisão do que na população. Grosso modo, nas prisões paulistas, era algo mais ou menos assim: 60% brancos e 40% negros. Na população de São Paulo, os negros representam mais ou menos 25% da população. Logo, você tem uma representação da população negra maior dentro da prisão do que fora. O meu argumento é que isso não se deve ao maior potencial criminal, mas à maior criminalização do comportamento delinqüencial de negros comparativamente a brancos. Isso parece muito evidente. Não é um olhar direto que pune os negros, mas sim porque ocorre uma falta de apoio de direitos. No fundo, é conjunto de falta de proteção social e jurídica que torna o indivíduo mais vulnerável à sanção penal. Por não poder se defender melhor, ele não tem como se defender bem. Eu não sei dizer para você se os negros são punidos na medida certa e os brancos são os privilegiados na punição ou se a punição correta seria, por exemplo, de 59% e você tem 10% de negros punidos acima da média. Isso eu não consegui verificar, seria preciso um outro tipo de controle de pesquisa para poder fazer isso. Mas, de qualquer maneira, seja uma coisa ou outra, a idéia é de que a distribuição da justiça é desigual segundo a cor.

"É preciso termos mais operadores negros no direito, para que os operadores brancos sintam-se constrangidos ao aplicarem suas sentenças e para que o olhar étnico também seja considerado na justiça"

ComCiência - O que significa essa distribuição desigual de direitos na justiça?
Adorno
- Isso significa que a tal universalidade dos direitos, inclusive da aplicação da justiça, está comprometida na base. Ora, se a cor é um poderoso instrumento de distribuição de sentenças, algo está errado. Minha pesquisa não permite dizer que isso se deve a um racismo dos operadores da justiça. Na verdade, isso se deve a um conjunto de fatores. Nos processos criminais de negros, por exemplo, foi possível notar que, no fundo, existem processos muito sutis de desqualificação frente aos direitos e isso é uma coisa muito evidente e forte. O problema é esse, como é possível restabelecer esta igualdade na sanção, igualdade na distribuição de lei e ordem? Eu acho que é preciso termos mais operadores negros no direito, para que os operadores brancos sintam-se mais constrangidos ao aplicarem suas sentenças e para que o olhar étnico também seja considerado na justiça. Considerado não para beneficiar alguém, mas para garantir a igualdade e para garantir que a cor não influencie a leitura de algum caso, ou que, de alguma forma, interfira numa decisão judicial.

Atualizado em 10/11/03
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terça-feira, 4 de setembro de 2007

Avaliações, trabalhos e xerox!!!!!!

Algumas informações sobre as provas e trabalhos deste semestre, dúvidas? podem deixar nos cometários.

Obs: nos links ao lado está o Blog do Profº Lelo também.

- Psicologia: (Profª Renata)
Dia 03/09/07: Entrega do Trabalho "Crise e Estigma" e respostas do questionário da apostila "Meios de Comunicação e Massa" - questão 1 e 2.

- Teoria da Comunicação: (Profª Claudia)
Dia 04/09/07: Avaliação relacionada aos textos da xerox - "Teoria da Comunicação: conceitos básicos" (pág. 6 - 13), "Subsídios para uma TC" (pág. 21 - 33) e "TC: conceitos, escolas e tendências" (pág. 119 - 130).

- Teoria Política / Filosofia: (Profº Marcos Zarahi)
Durante o semestre: Escolher entre os trabalhos - Homero (Ilíade e Odisséia) - fazer resenha. Ágora - fazer cronologia desde a Grécia até a ONU...(texto xerox). Hesíodo (Teogonia) - resumo do livro. República de Platão - fazer resenha comentada do capítulo 7.

Observatório da Imprensa

PUBLICIDADE NA TV

O fim de um estereótipo
Por Muniz Sodré* em 16/5/2006

Vale a pena prestar a devida atenção a um comercial sobre caldo de galinha que a televisão vem exibindo. Em princípio, nada de mais: um pai prepara uma refeição para o filho à base do tal caldo. Mas logo se torna claro que o pai e a mãe não moram na mesma casa, que são divorciados. Pela primeira vez, ao que parece, a publicidade permite-se a ratificar a separação de casais. Até agora, décadas depois da adoção do instituto do divórcio no país, a família-de-anúncio-de-TV passava uma imagem de relação estável, religiosamente eterna, sem crises. Cumpre à observação da mídia registrar alterações nos estereótipos que movimentam as suas representações. A televisão, em especial, comunica-se com seu público à base predominante de clichês ou estereótipos, que são as repetições de uma forma padronizada. Todo estereótipo, um dos mais expressivos recursos da TV e da publicidade, é uma condensação retórica de emoções coletivas. A velha retórica, por sua vez, é mais do que nunca atual enquanto arte da expressão e da persuasão, não raro empregada como técnica política, em virtude de seus efeitos de controle dos discursos. Serve para convencer, no sentido racionalista do termo, e para agradar ou bajular, o que dá bem o alcance de seu aspecto afetivo ou irracional – portanto, em linhas gerais, serve para comunicar idéias e emoções, produzindo sensações. Discursos congelados O estereótipo visa basicamente a chamada "inteligência emocional" do público, entendida como um tipo de inteligência baseada não apenas na racionalidade cognitiva, mas também naquilo que se dá a conhecer como afetos – percepção direta dos estados corporais e emocionalismo – e que constituiria um elo essencial entre o corpo e a consciência. Sabe-se bem que a inteligência não depende da consciência clara de um "eu" puramente racional, já que são muitas as formas de compreensão que caminham na obscuridade. Mas a inteligência emocional corrente na mídia é geralmente entendida como eficácia do estado afetivo, portanto, como pretexto para o controle gerencial das emoções apaixonadas, em função de uma racionalidade instrumental, que se pode pôr a serviço da criatividade na produção, mas principalmente em função do consumo. Seu apelo dirige-se ao "corpo do consumo", favorecendo fortemente as imagens midiáticas capazes de suscitar sensações, emoções e paixões. É normal que organizemos o mundo em imagens, para melhor conhecê-lo. Até mesmo as ciências naturais podem nos oferecer imagens do mundo, mas sem barrar o caminho para que as operações críticas venham a desintegrar essas mesmas imagens. Na vida social, entretanto, as imagens que o senso comum emprega para construir as representações do mundo podem congelar-se nos discursos e pretender assim eternizar os mitos geralmente inerentes à narração da realidade. Hábitos e percepções Esta é a função principal dos estereótipos. Trabalhados por essa máquina de narração do mundo por imagens, que é a televisão, os estereótipos reforçam poderosamente as representações conservadoras circulantes na vida social. A família-de-anúncio-de-TV era, até agora, um clichê que negava a história (e o sentido) da família concreta em benefício de uma imagem publicitariamente harmoniosa. Tudo bem, alguém poderá dizer, mas a publicidade televisiva terminou despertando para a realidade histórica do casamento, que convive com o instituto do divórcio. Outro poderá mencionar a força de modernização da publicidade, exatamente por meio da intervenção do mercado de consumo nas percepções e nos hábitos coletivos. Mas ainda está para ser feito um bom levantamento crítico, dentro e fora do escopo publicitário, dos estereótipos que presidem aos critérios de valor-notícia (o que o jornalismo considera digno de ser noticiado) e às argumentações supostamente críticas da mídia. O noticiário político corrente é um prato cheio. * Jornalista, escritor e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=381TVQ001

BBC Brasil - Estrangeiros

11 de maio, 2007 - 23h52 GMT (20h52 Brasília)

Jair Rattner
De Lisboa

Brasil pretende aumentar em 80% número de turistas estrangeiros


A ministra do Turismo, Marta Suplicy, revelou que o plano para o setor do turismo para o segundo mandato – que será anunciado pelo presidente Lula no final do mês – deverá prever um crescimento de 80% no número de turistas estrangeiros. “O 2º Plano Nacional de Turismo vai estipular a meta de ingresso de 9 milhões de turistas em 2010. É um esforço enorme, porque temos hoje 5 milhões de turistas”, disse em Lisboa, onde foi participar da cúpula mundial do setor, organizada pela WTTC (Organização Mundial do Turismo e Viagens). O número é o mesmo previsto pelo anterior ministro do setor, Walfrido Mares Guia (atualmente na coordenação política do governo), para o final de 2006. “Antes era uma estimativa. Agora estamos fazendo esta previsão baseada em estudos”, disse a ministra. O objetivo é aumentar a parcela que o turismo representa no PIB nacional, em que atualmente é responsável por 2,5% - em Portugal, o turismo representa 10% do PIB. Segundo Marta, uma das vantagens do crescimento do setor é que gera postos de trabalho – atualmente são 6 milhões, dos quais 2 milhões informais. "Um país a ser descoberto" A campanha para atrair turistas estrangeiros terá como tema “um país a ser descoberto”. Um dos mercados-alvo será o norte-americano. “Neste momento, o Brasil representa apenas 1,2% do share dos turistas norte-americanos, o que é baixíssimo”. Apesar disso, os Estados Unidos são o segundo maior emissor de turistas para o Brasil, atrás apenas da Argentina. Para alcançar o objetivo, Marta conta com os investimentos do PAC em aeroportos, portos, rodovias e saneamento e com a formação de mão-de-obra. “O presidente anunciou a criação de 53 escolas técnicas. Queremos que algumas sejam para a área de turismo.” Ela aponta como vantagem brasileira a hospitalidade. “Segundo os estudos que temos, 95% dos turistas estrangeiros que visitam o Brasil pretendem voltar e eles indicam que o que mais os atraiu não foi a natureza ou as atrações turísticas, mas a hospitalidade”, disse a ministra. Rio em campanha Aproveitando os Jogos Panamericanos, em julho, o Rio de Janeiro vai começar uma campanha para atrair turistas estrangeiros. O lema será One Rio (Um Rio, em inglês) e até outubro serão investidos R$ 15 milhões. “A campanha vai ser destinada ao mercado interno e externo e será dirigida aos diferentes públicos, na linha do que é feito em Nova York com a campanha Big Apple. Dependendo do público, vai ser One Bossa Nova, One Maracanã ou One Ipanema”, disse o secretário de Turismo do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Segundo Paes, o Rio pretende manter a quota de turistas estrangeiros no cenário de crescimento do turismo para o Brasil. “Atualmente, temos 3 milhões de turistas, ou seja, 60% dos estrangeiros que vêm para o Brasil passam pelo Rio”. Paes afirmou que a necessidade de agir com mensagens diferenciadas resulta da diversidade. “Os japoneses quando vão ao Rio passam sempre pelo Maracanã. Mesmo quando estava fechado, o Maracanã era o segundo ponto turístico mais visitado da cidade, só atrás do Cristo Redentor.”

http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/05/070511_turismojair_ac.shtml

BBC Brasil

Seguem os textos utilizados na aula de ontem 29/08/2007.
BBC Brasil.com
28 de agosto, 2007 - 13h37 GMT (10h37 Brasília)
Márcia Carmo de Buenos Aires
Argentina: Brasileiros são 'estrangeiros preferidos' de estudantes, diz pesquisa
Uma pesquisa inédita realizada com estudantes na Argentina revelou que os brasileiros são os estrangeiros mais aceitos do país. Segundo o estudo, feito para avaliar a xenofobia entre os estudantes, os brasileiros tiveram maior índice de aceitação (52%) e menor índice de rejeição (30%) numa lista de doze diferentes grupos de estrangeiros. A pesquisa, que ouviu 5 mil estudantes do segundo grau de 85 escolas públicas de várias províncias do país, foi realizada pelos sociólogos argentinos Ana Lia Kornblit e Dan Adaszko, do Instituto de Investigação Gino Germani, da Universidade de Buenos Aires (UBA). Em entrevista à BBC Brasil, Adaszko disse que os resultados da pesquisa surpreenderam pelo alto nível de "xenofobia", com percentuais preocupantes, por exemplo, de rejeição a ciganos (67%), judeus (55%), chineses e coreanos (52%) e bolivianos (52%). Os estudantes receberam listas com as nacionalidades e grupos e três opções de respostas – aceitação, rejeição e indiferença. Mais de 40% dos estudantes rejeitaram os peruanos, chilenos, paraguaios, americanos e árabes. Os brasileiros são uma exceção nesta lista, como disse Dan Adaszco: "Acreditamos que, diferente dos outros grupos de estrangeiros, citados na pesquisa, os brasileiros não são vistos como uma ameaça no mercado de trabalho local", afirmou. "Além disso, há a imagem positiva do carnaval, das férias nas praias brasileiras e o reflexo do que sai na imprensa argentina sobre o Brasil e os brasileiros", completou Adaszco. Para ele, a pesquisa confirma a fama de "xenofobia" em setores da sociedade argentina. "Nós entendemos que os adolescentes são um reflexo do mundo dos adultos e têm coragem de dizer o que os adultos não dizem", afirmou. Apesar da fama, Adaszko se disse surpreso com o alto grau de rejeição, de mais de 50%, em relação a ciganos, judeus, chineses e bolivianos. Segundo o estudioso, existe um "discurso duplo" na Argentina por ser um país que abriu as portas para a imigração, mas não de forma igualitária. "Para muitos, especialmente nos grandes centros urbanos do país, o ideal e aceitável é o europeu e o branco e não o nativo da América Latina", avaliou. "O latino é visto aqui com desconfiança e até desprezo". Segundo ele, a pesquisa mostrou ainda que o índice de "xenofobia" e "racismo" diminui a medida que aumenta o nível de educação dos pais. "Não é questão de classe social, mas sim que depende do nível de educação dos pais dos estudantes adolescentes", disse. Na Argentina, no final do século 19 e início do século 20, as principais imigrações foram italiana e espanhola. Nos anos 90, segundo dados oficiais da Direção Nacional de Migrações da Argentina, a maior imigração partiu dos países da região como Bolívia, Peru e Paraguai – os brasileiros são minoria nesse grupo. A pesquisa de opinião recebeu o Prêmio Ibero-americano em Ciências Sociais da Universidade Nacional Autônoma do México e será premiado, nesta terça-feira, pelo Instituto Nacional contra a Discriminação, a Xenofobia e o Racismo (INADI) da Argentina.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/08/070828_brasileirosargentina.shtml